São 100 por cento elétricos, retiram a sua energia do Sol – que nasce todos os dias e é para todos – e podem servir para os mais variados fins, desde a utilização para a pequena pesca até à promoção de atividades marítimo-turísticas.
Os estaleiros olhanenses Sun Concept foram criados com o objetivo de revolucionar o mercado da construção naval, tornando-o mais verde, e o valor ecológico das embarcações ali construídas já foi reconhecido com a sua escolha para finalista da edição de 2016 dos Green Projets Awards Portugal.
Os barcos solares da empresa sediada em Olhão, criada há cerca de ano e meio, foram o único projeto algarvio selecionado para o restrito grupo de finalistas destes prémios, atribuído anualmente pela consultora GCI, pela Agência Portuguesa do Ambiente e pela associação Quercus.
A disputar a vitória final deste concurso, na categoria Agricultura, Mar e Turismo, está o SunSailer 7.0, um dos modelos disponibilizados pela Sun Concept.
Esta é apenas uma das embarcações construídas pela empresa algarvia. O portfólio da Sun Concept conta com barcos de diferentes tipologias e caraterísticas, a piscar o olho a destinatários bem distintos. Cada qual tem as suas particularidades, mas todas têm o denominador comum de serem construídas de forma a serem competitivas, ao nível do preço, com aquilo que já existe no mercado.
«Tentamos entregar aos nosso clientes um produto que seja mais eficiente e dos novos tempos e que é competitivo em relação ao que existe, em termos de motores de combustão. Procuramos ter o mesmo preço, com mais eficiência, já que esta é uma embarcação não poluente e amiga do ambiente, porque não consome hidrocarbonetos e praticamente não emite ruído», resumiu Manuel Brito, proprietário da Sun Concept, em entrevista ao Sul Informação.
Uma das caraterísticas mais atrativas destes barcos é o facto de «não gastarem nada». «Anda-se, anda-se e anda-se, mas o consumo de combustível é zero», revelou. E até de noite se pode andar, já que os Sunsailers da empresa olhanense estão equipados com baterias, que acumulam a energia captada do Sol.
«Captamos a energia do Sol, que, por sua vez, carrega um conjunto de baterias, que alimentam os motores elétricos. A autonomia, que é um dos conceitos em que estamos a apostar, é ilimitada. Ao contrário dos automóveis elétricos, que têm um problema de autonomia, que vai sendo resolvido aos poucos, nós apostámos na colocação de painéis», assegurou.
No caso dos carros elétricos, as baterias vão-se esgotando, o que obriga a um período de inatividade da máquina, para carregar. «No caso dos nossos barcos, o conceito, na minha visão, é muito mais evoluído. É o Sol que carrega as baterias e enquanto houver sol, há sempre energia», disse Manuel Brito.
E nem sequer precisa de estar um dia soalheiro para que as baterias carreguem. «Nós todos sabemos que, quando vamos à praia e está nublado, sentimos que nos queimámos à mesma», ilustrou. Ainda no passado sábado foram promovidos passeios noturnos num Sunsailer, em Faro, numa iniciativa do Centro de Ciência Viva do Algarve.
«A nossa ideia foi criar uma autonomia de 8 a 9 horas, sem sol, ou seja, de noite. Isto permitirá às embarcações navegar de forma infinita», garantiu. «Mesmo assim, os barcos «permitem o carregamento em marina, através da rede elétrica».
Esta autonomia é garantida para a velocidade de cruzeiro das embarcações, que são «5,5 nós, cerca de 12 quilómetros por hora». A embarcação vai até aos 7 nós, mas, se andar muito tempo à velocidade máxima, «a autonomia reduz-se para cerca de metade».
Este desempenho tem tendência a melhorar, já que há uma aposta cada vez maior na automação elétrica, a nível mundial, que faz prever avanços tecnológicos, no curto ou médio prazo, e uma redução dos custos. Manuel Brito conta com eles para melhorar os produtos e lançar novas embarcações.
«Em relação aos painéis solares, é esperada uma evolução positiva, mas não radical. Ou seja, é esperado aumento gradual da eficiência ao nível da captação e que possam ter configurações mais úteis, que possam ser moldáveis e não sejam rígidos. Já nas baterias, que é a questão essencial, esperamos que as baterias de lítio [as mais eficientes] venham a ter uma redução de preços para um terço do atual», ilustrou.
A partir do momento em que esta tecnologia estiver a um preço mais acessível, «podemos melhorar a autonomia e velocidade em conjunto». «Os motores já estão num estado muito evoluído, há de várias potências», disse.
Até porque a ideia é não fugir muito ao preço atual de um Sunsailer, «35 mil euros mais IVA, para um barco de sete metros», para que este seja acessível ao maior número de bolsas possível. «A nossa aposta é chegar a todos. Considero que somos a primeira empresa a nível mundial a produzir embarcações eletrossolares com preço acessível e com uma autonomia elevada. Nós procurámos ter um preço adequado, com um único senão, a velocidade limitada. Mas vamos melhorar muito neste aspeto», assegurou.
«Estamos a pensar em novos modelos e a fazer um grande esforço para apresentar uma nova embarcação até ao Verão, mais comprida – 10 a 12 metros -, com capacidade superior às 12 pessoas do nosso maior barco atualmente e uma velocidade a rondar os 10 nós. Aqui, provavelmente, teremos duas opções: motorização com baterias de chumbo, a um preço mais baixo, e outra com baterias de lítio, que ficará mais dispendioso», revelou.
Este modelo é criado a pensar, também, nas empresas marítimo-turísticas, mesmo aquelas que operam na linha de costa e até no mar alto, uma vez que muitos dos modelos da Sun Concept já tem capacidade para sair das águas mais calmas.
SUNSAILER 7.0 JÁ VIAJA PELO PAÍS E DÁ BOLEIA A GARÇAS DA RIA FORMOSA
Os barcos solares da Sun Concept são construídos a poucas centenas de metros da Ria Formosa, uma área protegida onde as suas caraterísticas verdes podem ser particularmente úteis. A sensibilidade dos ecossistemas existentes neste sistema lagunar é elevada e a circulação em barcos elétricos ajuda, por um lado, à manutenção da qualidade da água da ria e, por outro, contribui para diminuir os níveis de stress dos seus muitos habitantes, ao reduzir quase a zero as emissões de ruído.
«Nestas zonas de ria e de estuário, há fauna que é sensível ao ruído e cada vez há um número mais elevado de embarcações a circular. A continuar assim, a nidificação de aves e as posturas dos peixes nesses locais vai ficando cada vez mais em risco», ilustrou Manuel Brito. No caso dos barcos solares, o seu desempenho silencioso até convida algumas aves mais corajosas a apanhar boleia.
Desta forma, os barcos da Sun Concept piscam o olho não apenas ao mercado algarvio, mas ao de todos as zonas lagunares e estuarinas do país e (porque não) por esse mundo fora. Curiosamente, apesar destes serem barcos “filhos de Olhão”, é fora do Algarve que têm gerado mais entusiasmo.
«Lançámos o primeiro produto para o mercado em Março de 2016, ainda estamos numa fase de divulgação dos produtos. Atualmente, andamos em roadshow e temos feito um esforço muito grande. Estivemos recentemente em Cerveira, na fronteira com a Galiza, onde promovemos uma apresentação em conjunto com a Fundação Inatel e oferecemos viagens às pessoas interessadas. Ficou acordada a venda de uma embarcação a uma marítimo-turística que opera no Rio Minho», contou Manuel Brito.
Uma semana antes, a Sun Concept tinha promovido uma ação semelhante na Foz do Arelho, Lagoa de Óbidos, «que também foi um sucesso». «Fizemos oito viagens com a embarcação sempre repleta de pessoas», disse. Entretanto, a Sun Concept já esteve a mostrar os seus Sunsailers em Vila Nova de Gaia e em Lisboa, onde esteve durante a Web Summit.